domingo, 30 de setembro de 2018

Setembro, o Mês da Bíblia - Parte III (Domingo, 30 de setembro de 2018)


''Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho.''
(Salmo 119,105)


>Clique aqui para ler a 2ª parte do especial da Bíblia!


3ª Parte: O Cânon bíblico

Uma questão de grande debate entre as vertentes do cristianismo dá-se a respeito do cânon bíblico, isto é, os livros que compõe a Bíblia.
A Igreja Católica, por mais de 600 anos, tem definido 46 livros para o Antigo Testamento e 27 para o Novo, totalizando 73 livros, de acordo com a seguinte lista:

Antigo Testamento: 
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio (Pentateuco); Josué, Juízes, Rute, 1Samuel, 2Samuel, 1Reis, 2Reis, 1Crônicas, 2Crônicas (ou 1 e 2 Paralipômenos), Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, 1Macabeus, 2Macabeus (Livros históricos); Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes (ou Coélet), Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico (ou Sirácida) (Livros poéticos e sapienciais); Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias (Livros proféticos). 

Novo Testamento: 
Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas, João; Atos dos Apóstolos; Epístolas aos Romanos, 1Coríntios, 2Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1Tessalonicenses, 2Tessalonicenses, 1Timóteo, 2Timóteo, Tito, Filêmon, Hebreus; Epístolas "católicas" de Tiago, 1Pedro, 2Pedro, 1João, 2João, 3João, Judas; Apocalipse de João. 

Já para os cristãos de vertente protestante, a grande diferença se dá na lista do Antigo Testamento. 
No período da Reforma Protestante, uma das grandes ideias defendidas foi a de que a Igreja se corrompeu, afastando-se de suas raízes. Com o intuito de trazerem o foco de volta às Escrituras, os protestantes encontraram um cânon diferente do católico, com 7 livros a menos, totalizando 39. Daí, criou-se o pensamento de que a Igreja adicionou 7 livros aos 39 canônicos. Mas o que ocorreu, na verdade, foi bem diferente.

Na época em que os apóstolos iniciaram sua missão de dar continuidade aos ensinamentos de Cristo, eles dispunham de uma tradução grega das Escrituras, a Versão dos LXX (ou Septuaginta), à qual foram-se adicionando os livros do Novo Testamento, que começou a ser compilado cerca de 20 anos após a morte de Jesus. Assim, todo o conhecimento da geração dos apóstolos a respeito das Escrituras partiu dessa tradução. Nessa tradução, encontram-se os 7 livros que, um século depois, seriam considerados "apócrifos" para os judeus (decisão tomada no concílio de Jâmnia). 
Visando difamar os apóstolos, acusando-os de heresia por pregarem uma doutrina diversa da defendida por eles (vale lembrar que os judeus não consideravam Jesus o Messias prometido por Deus, e assim o é até hoje para grande parte deles), foram estabelecidos critérios para a validade dos livros canônicos:

.O livro não poderia ter sido escrito fora do território de Israel. 
.O livro não poderia conter passagens ou textos em aramaico ou grego, mas apenas em hebraico. 
.O livro não poderia ter sido redigido após a época de Esdras (458-428 aC). 
.O livro não poderia contradizer a Lei de Moisés (Pentateuco). 

Com esse filtro, 7 livros acabaram sendo apontados como contraditórios e, portanto, apócrifos: Tobias, Judite, 1 e 2 dos Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc, mais alguns fragmentos em grego em Ester e Daniel. 
Desde o séc. XVI até meados do séc. XIX, houve debates sobre a validade desses escritos (alguns protestantes ainda os incluíam em suas bíblias; o próprio Martinho Lutero, em sua tradução em alemão, colocou-os como apêndice logo depois dos livros aceitos). Desse período em diante, decidiram abolir de vez tais livros da Bíblia, adotando-se o cânon de 66 livros que é comum no meio protestante atualmente.

Porém, vale ressaltar as contradições acerca dessa decisão: apesar de ser aparentemente nobre a intenção de retomar as raízes bíblicas, os protestantes esbarraram na falta de informação histórica. Entre o período de Esdras até o início da Era Cristã, grupos judeus migraram para regiões onde o grego era a língua predominante. Aos poucos, o hebraico foi caindo em desuso para eles. Buscando conservar as Escrituras que lhes foram transmitidas por gerações, traduziram para o grego os livros que, mais tarde, comporiam a Septuaginta. Outro fato é que nem entre os judeus havia um acordo sobre o cânon correto: alguns adotavam apenas a Torá (o Pentateuco cristão) como divinamente inspirado; outros defendiam também os livros proféticos e os escritos sapienciais etc.

Portanto, cabem aqui algumas perguntas: por qual motivo basear-se em um concílio judaico (que não possui relação alguma com a então crescente comunidade cristã, e cujos efeitos não se aplicam a eles), sendo que tal concílio fora organizado unicamente para difamar os apóstolos de Cristo - estes, os legítimos herdeiros da Nova Aliança e portadores da Palavra - acusando-os de promoverem um ensino impróprio? E qual a base para dizer que certos livros do Antigo Testamento não são inspirados enquanto que, sobre o Novo, não há discussão sobre a lista de livros (27, os mesmos que os judeus rejeitam por motivos mencionados acima)? Teria o Espírito de Deus se equivocado, revelando uma verdade incorreta e deixando gerações no erro? Vale lembrar que o Novo Testamento possui livros que, durante um tempo, eram também considerados não-inspirados: a epístola aos Hebreus, a de Tiago, a 2ª de Pedro, a 2ª e 3ª de João, a de Judas e o Apocalipse. Quem deu a palavra final sobre sua canonicidade foi a Igreja Católica.


A Igreja Católica, por outro lado, definiu e confirmou em vários concílios a canonicidade dos escritos, atribuindo-lhes o nome de deuterocanônicos, isto é, pertencentes a um segundo cânon. A Igreja ensina que as revelações de Deus não cessaram no período pós-Esdras; tanto que o próprio Jesus disse, no cap. 16 do evangelho de Lucas, que "a Lei e os Profetas duraram até João" (o Batista, pois ele representa a ponte entre a Antiga e a Nova Aliança). Tanto que todos os ensinos dos pais e doutores da Igreja - sejam na forma de concílios e documentos papais, sejam como a história de martírio e intercessão dos santos (algo que os protestantes rejeitam) são vistos como a continuação da mensagem de Deus. 
Sendo a Igreja o corpo visível de Cristo e prefiguração da Igreja celeste do fim dos tempos, é dela a autoridade de ensinar as Escrituras de forma correta - afinal, foi ela quem reuniu, compilou, preservou e canonizou a Bíblia como a conhecemos hoje no meio católico - antes, o ensino era transmitido oralmente, sendo dos apóstolos - membros da Igreja que então crescia mais e mais - a autoridade de ensinar. Estaria ela, então, induzindo os fiéis ao erro durante 2.000 anos de existência? E seus acusadores, empreendendo um combate aos "erros" do Catolicismo, valendo-se de um livro CUJA CANONICIDADE FORA DEFINIDA PELA IGREJA, contradizem a si próprios. Válido seria montarem uma Bíblia nova, baseada em seus próprios gostos, e adotando alguns livros apócrifos das dezenas existentes, e que foram sabiamente rejeitados pela Igreja por serem contraditórios...


Espero que tenham gostado do Especial do Mês da Bíblia. Obviamente, esse é um assunto inesgotável e fonte de inúmeras pesquisas, mas tentamos reunir uma visão básica para aqueles que desejam ter um ponto de partida na leitura de tão maravilhoso e edificante escrito - nada menos que a Palavra de Deus, transmitida através de homens simples, mais rica em ensinamentos e atemporal. Futuramente, traremos mais postagens analisando outros pontos da Escritura, aprofundando os temas já estudados.

Um grande abraço a todos, na paz de Cristo e no amor de Maria!




Fontes de pesquisa:



 

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